A Lista Negra - uma lista inocente que termina em tragédia

Amazon - editada.

Título: A lista negra | Hate List
Autora: Jennifer Brown
Páginas: 272
Editora: Gutenberg

A Lista Negra - E se você desejasse a morte de uma pessoa e isso acontecesse? E se o assassino fosse alguém que você ama? O namorado de Valerie Leftman, Nick Levil, abriu fogo contra vários alunos na cantina da escola em que estudavam. Atingida ao tentar detê-lo, Valerie também acaba salvando a vida de uma colega que a maltratava, mas é responsabilizada pela tragédia por causa da lista que ajudou a criar. A lista com o nome dos estudantes que praticavam bullying contra os dois. A lista que ele usou para escolher seus alvos. Agora, ainda se recuperando do ferimento e do trauma, Val é forçada a enfrentar uma dura realidade ao voltar para a escola para terminar o ensino médio. Assombrada pela lembrança do namorado, que ainda ama, passando por problemas de relacionamento com a família, com os ex-amigos e a garota a quem salvou, Val deve enfrentar seus fantasmas e encontrar seu papel nessa história em que todos são, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas.

Os Estados Unidos têm uma história conturbada em relação ao bullying. A cada dia que passa, os casos aumentam, suicídios acontecem, massacres vez ou outra surgem tornando-se o foco midiático da vez, para logo depois sumirem no esquecimento, caindo na caixa de coisas normais. O livro A Lista Negra (Hate List, no original em inglês) é um baque de luta contra tudo isso. Há alguns anos, este livro era muito bem comentado e elogiado, e eu acompanhei por blogs e canais o quanto estava sendo bem recebido pelo público. A história já me era familiar por causa disso; uma garota enfrentando a volta às aulas depois do massacre de estudantes, feito pelo seu namorado de acordo com os nomes escritos na Lista Negra que ela ajudou a criar.

Gosto de ler sobre pessoas passando por situações difíceis e reais. Não que eu não goste de uma boa fantasia – até porque eu adoro – mas é bom ver uma narrativa focada no psicológico conflitante de alguém depois de um fato traumatizante. É preciso que o autor desse tipo de obra tenha cuidado ao colocar os pensamentos do personagem no papel, para não cair na perigosa armadilha de um personagem que se culpa por tudo, o que estava se tornando comum, principalmente nos Young Adult. Sim, este livro é YA e na época foi um ponto sério e instigante num mundo onde os únicos tipos de livros existentes eram os sobrenaturais ou distópicos. 

Conhecemos Valery Lefman, uma adolescente que está prestes a cursar o último ano do ensino médio, prestes a iniciar sua primeira aula. Poderia ser algo normal, se antes das férias não tivesse ocorrido um massacre na praça de alimentação da escola. Se seu namorado não fosse o assassino e se ela não tivesse ajudado a escolher as vítimas – mesmo que sem querer. Depois de passar por tratamentos dos seus ferimentos físicos e mentais, além de ter que aguentar as investidas de detetives que tem certeza que ela foi culpada, ela recomeça a frequentar as aulas, que para ela vira um verdadeiro campo de batalha, onde ela tem que enfrentar o ódio e indiferença da maioria, sejam de alunos, de professores ou do próprio diretor.

Além de ter que lidar com as lembranças e consequências da tragédia, Valery ainda sente pelo suicídio de Nick, seu namorado. E ainda se sente péssima com a relação deteriorada entre seus pais, que muito antes do massacre brigavam o tempo todo. Desse modo, temos uma personagem em conflitos para todos os lados: na escola, em casa, na vida íntima, nas amizades. Antes, ela destilava seu ódio na Lista Negra, escrevendo nomes de pessoas e de coisas que odiava; agora ela se sente  perdida, tendo apenas um caderno de desenho e o doutor Hieler para mantê-la no ar. 

Mais ou menos depois da metade, o livro tem uma estrutura em dois tempos. Vemos Valery no presente contando tudo sobre a volta às aulas, e uma no passado contando o que aconteceu no dia do massacre e depois dele. Nada fica confuso, pois as duas partes se entrelaçam muito bem. Nos começos de alguns capítulos vemos partes de uma reportagem de jornal sobre o massacre, nos colocando ainda mais dentro da história. De acordo com o que vê ou ouve, Valery narra algumas lembranças, às vezes boas, às vezes ruins, nos capítulos do presente, o que é natural, já que lembramos automaticamente de coisas de acordo com o que acontece/vemos ao nosso redor. 

Gostei muito dos personagens, principalmente do doutor Hieler, o psiquiatra com quem Valery faz consultas desde que saiu do hospital. Ele a ajuda bastante e sempre conseguia me tirar um sorriso do rosto, como um tio legal que sempre sabe o que dizer para te fazer sentir melhor, ou refletir sobre si próprio. A maioria dos personagens são bem construídos, isso é fato. A trama é naturalmente permeada de estereótipos norte-americanos; garotas masculinas = más, líderes de torcidas = más, porém são coisas que ao longo da narrativa vão sendo desconstruídas. Dito isso, temos Jessica Campbell, uma líder de torcida que apelidava maldosamente Valery, um clichê ambulante dos EUA, que é salva por ela quando estava prestes a ser morta por Nick. Salva e traumatizada, vemos uma transformação em Jessica, que me fez gostar dela demais. 

Nesse mar de tragédia, há algumas cenas no presente de quase alívio, sempre duas personagens conversando e rindo, o que me pareceu forçado e por vezes, repetitivo. A personagem Bea, pessoalmente, não me agradou muito; ela é o tipo de arquétipo que só serve para levantar a moral da protagonista e dar um pouco de poesia ao texto, com suas falas sábias enquanto parece estar lendo os pensamentos dela. É muito bonito Valery indo para seu estúdio pintar, mas Bea me era desagradável. 

Quero dizer que A Lista Negra não é apenas um livro sobre bullying. É um livro sobre as consequências dele. E isso é a grande sacada, pois numa sociedade como a nossa, narrativas extensas sobre os atos explícitos do bullying, nos daria sono por tão comuns que se tornaram. Mas o sofrimento, a devastação, não apenas dos sobreviventes do massacre, como também dos familiares e amigos deles e dos mortos, nos toca. O livro é em primeira pessoa, mas conseguimos ver a tragédia em todos os personagens. O final me pareceu um pouco corrido, mas me tocou de um jeito que eu não esperava. 

A Lista Negra é um alerta para aquilo que devemos – e podemos – evitar. Tragédias ocorrem e não podemos mais fingir que cerimônias e reportagens enfatizando a união pós-tragédia seja o suficiente para parar este monstro que, antes de tudo, nem deveria ter nascido.

“Eu era tanto o monstro quanto a garota triste. Não conseguia separar os dois”. (p. 67)
A Lista Negra - uma lista inocente que termina em tragédia A Lista Negra - uma lista inocente que termina em tragédia Reviewed by Alana Camp. on maio 04, 2015 Rating: 5

Um comentário:

  1. E aí, Alana! Como eu já respondi a Tag e a Vanessa não curte anime, essa é para você: http://sendoumaotaku.blogspot.com.br/2015/05/tag-i-love-animes.html Responda a Tag! Beijos!

    ResponderExcluir

Tecnologia do Blogger.